César Lattes, um dos maiores cientistas brasileiros de todos os tempos, esteve muito próximo de ganhar o Prêmio Nobel de Física por sua descoberta do méson pi, uma partícula subatômica, quando tinha apenas 23 anos. Apesar de seu trabalho revolucionário, Lattes não foi agraciado com o prêmio, que foi entregue apenas ao seu colega inglês Cecil Frank Powell. As razões por trás dessa injustiça permanecem obscuras, mas especula-se sobre politicagem e preconceito. Independentemente disso, a influência de Lattes na ciência brasileira é inegável e sua importância para o mundo acadêmico é incalculável.
Início Precoce:
Nascido Cesare Mansueto Giulio Lattes em Curitiba, em 1924, filho de imigrantes italianos, Lattes mudou-se cedo para São Paulo, onde concluiu seu ensino básico e se graduou em Física e Matemática na Universidade de São Paulo (USP) aos 19 anos. Parte de uma geração de jovens pesquisadores brasileiros brilhantes, Lattes foi influenciado pelos professores Gleb Wataghin e Giuseppe Occhialini. Aos 23 anos, fundou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro e foi para a Inglaterra trabalhar com Cecil Frank Powell na Universidade de Bristol.
Descoberta Revolucionária:
Na Inglaterra, Lattes aprimorou a emulsão nuclear utilizada por Powell, adicionando boro, e conseguiu identificar uma nova partícula subatômica, o méson pi. Essa descoberta revolucionou o estudo da física atômica, dando origem à física de partículas. Apesar do envolvimento de Occhialini e Lattes na pesquisa, apenas Powell foi reconhecido pela comunidade científica e premiado com o Nobel de Física.
Pesquisas nos Andes e nos EUA:
Nos anos seguintes, Lattes trabalhou em um laboratório na Bolívia, a mais de 5 mil metros de altitude, registrando e estudando raios cósmicos com chapas fotográficas. Seus novos registros reforçaram a natureza de sua descoberta, e ele ganhou fama mundial ainda jovem. Apoiado por Niels Bohr, Lattes foi para a Universidade de Berkeley, na Califórnia, testar sua teoria com o acelerador de partículas mais potente da época. Lá, ele identificou o méson pi sendo gerado artificialmente, não apenas por emissões cósmicas.
Reconhecimento e Popularidade: As descobertas de Lattes foram amplamente divulgadas em publicações científicas e na mídia em geral. No Brasil, ele foi aclamado como um jovem gênio e chamado de "herói da era nuclear" pela imprensa, ganhando popularidade em plena Guerra Fria.
Polêmica do Prêmio Nobel:
A questão do merecimento do Prêmio Nobel de Física dado a Powell pelo trabalho no qual Lattes teve participação crucial é ainda debatida. Especula-se sobre o costume da associação responsável pela premiação de agraciar apenas os chefes das pesquisas, mas também sobre politicagem e preconceito. Em entrevista, Lattes mencionou a "malandragem" de Powell e lamentou ter sido "tungado" duas vezes, referindo-se também à descoberta com Eugene Garden nos EUA, que não foi premiada devido à morte prematura de Garden. No entanto, mais próximo do fim da vida, Lattes parecia não se importar tanto com o prêmio, afirmando que "esses prêmios grandiosos não ajudam a ciência".
Legado e Contribuições:
Além de emprestar seu nome à Plataforma Lattes, sistema de currículos amplamente utilizado por acadêmicos brasileiros, César Lattes participou de diversas organizações e instituições científicas nacionais e internacionais. Foi mentor de importantes iniciativas, como a formação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, da Escola Latino-Americana de Física e do Centro Latino-Americano de Física.
Lattes faleceu em Campinas, em 2005, aos 81 anos, vítima de um ataque cardíaco. Seu legado científico é inestimável para a humanidade, e sua contribuição para a física de partículas é reconhecida mundialmente, apesar da injustiça sofrida em relação ao Prêmio Nobel.